Não se pode negar que há um certo alívio no ar em virtude do fim da greve dos professores da Rede Municipal em Ipatinga. Esse alívio não é porque a greve surtiu o esperado efeito. Não é porque o ensino melhorou, muito menos porque os professores, enfim, conseguiram o piso salarial, ou pelo menos um salário digno. Estamos aliviados porque o clima era tão tenso, e a situação estava tão difícil de se acertar que, temíamos, iria acabar sobrando para os grevistas.
O sindicato cumpriu seu papel, mas não tinha nada a perder. A corda arrebentaria do lado mais fraco, e seriam prejudicados os mais abnegados e importantes profissionais da nossa sociedade: os professores. Ninguém nega que os alunos e pais estavam sofrendo. Não se pode negar que a sociedade em geral estava apreensiva. Contudo, no fim, quem tem amigos e familiares professores sabe que ninguém sofreu mais que os mesmos.
Uma incerteza de querer lutar pelos objetivos do movimento e ao mesmo tempo querer voltar às aulas. Não é da natureza do professor a luta, mas sim o ensino. Eles tinham que lutar, mas queriam, simplesmente, ensinar. E essa situação perdurou durante toda a greve, que foi permeada por mentiras patrocinadas pela Administração e por atitudes radicais e nem sempre eficazes dos professores.
Greve de fome, acampamento em frente da prefeitura e até no gabinete do prefeito, paródias e muita mobilização. Surtiu efeito? Sim, muito! Surtiu porque o Prefeito Municipal e a Administração aprenderam que quando os professores falam que vão entrar em greve, não será uma greve de 2 dias, mas sim um movimento sério, que não acaba em 48 horas com a primeira proposta que se ofereça.
Espero que novas greves não sejam necessárias, que a Administração aprenda a cumprir seus compromissos, que saiba negociar melhorias salariais e de condições de trabalho sem que seja necessário parar as atividades mais essenciais à sociedade para abrir seus olhos.
É absurdo que somente após 60 dias de greve a Administração Municipal tenha feito uma proposta aceitável. É mais absurdo ainda que o Prefeito tenha fugido ao diálogo durante 70% ou mais da duração da greve. Por que não sentar e dialogar desde o primeiro dia de greve? Por que ir ao Judiciário e declarar ilegal uma greve que é direito constitucional e não pode ser negado? Senta, conversa, soluciona o problema que nem se entra em greve. E se entrar, acaba em uma semana.
E o Judiciário? Que história é essa de toda greve ser declarada ilegal? Não existe mais greve legal no Brasil? O que devo fazer com o monte de Constituições Federais que tenho em meio a meus livros jurídicos? Elas ainda têm utilidade? Afinal, se o Judiciário não cumprir a Constituição, quem a cumprirá?
Por Leonardo Chain.
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